terça-feira, 30 de junho de 2009

Clarissa


Clarissa sempre tinha uma ideia fantástica que iria resolver seu problema de grana. Parou de estudar bem cedo porque queria ser atriz. Achava que os estudos atrapalhavam sua carreira. Vivia às turras com sua família até que foi morar com um namorado ator. Em pouco tempo, já estava grávida do cara – que, aliás, deu no pé na primeira oportunidade. Sobrou para a família dela saudar as contas de alugueis, condomínios, luz etc. que o casal nunca conseguiu pagar. Clarissa vivia reclamando que a filha e as ocupações de mãe haviam arruinado a sua carreira como atriz. Isso não era bem verdade, já que quem cuidava da sua filha, Karina, era a avó. Clarissa atirava para todos os lados. Eu a conheci quando ela se ofereceu no jornal como companhia para idosos. Eu estava de partida para morar um ano em Viena e queria alguém que ficasse aqui com a minha avó. Ela era uma pessoa encantadora, muito bonita e agradável. Mas ao mesmo tempo muito preguiçosa e mentirosa. Deixou minha avó muitas vezes sozinha, vivia pedindo adiantamentos e empréstimos, sumiu por duas semanas. Sempre que voltava, tinha uma história triste, muitas vezes relacionada à filha que sequer cuidava. Minha avó, que tem o coração mais mole do mundo, perdoava sempre. Quando voltei, ela pediu para ficar ainda uns meses em casa. Esses meses se estenderam por quase dois anos. Eu não ligava, já que a avó gostava dela. O problema é que ela nunca pagava nada. Ficava horas dependuradas no telefone e quando chegava a conta fingia que não era com ela. Se queria ver uma filme ou uma peça de teatro dizia que queria levar a avó – para a velhinha pagar os ingressos, é claro.

A gota d’água foi quando ela me pediu uma grana para montar um negócio de animação de festas infantis. Para me ver livre dela, emprestei com aquele aperto no coração, com aquela certeza de que ela nunca me pagaria. Ela desapareceu um dia em que eu não estava, pegou as suas coisas (e algumas da minha avó) e sumiu. Quando ouviu essa história o meu irmão ficou furioso. Colocou um detetive para encontrá-la e mandou um dos “camaradas” dele dar uma prensa nela. O cara se fingiu de advogado fez um monte de ameaças. Ela apareceu no dia seguinte em minha casa assustadíssima. Disse que não tinha dinheiro mas que me pagaria assim que pudesse. Como eu estava irredutível, ela fez uma oferta tentadora:
- Se eu der para você. Você perdoa minha dívida? – disse em meio às lagrimas.
Eu não sei por que, mas fiquei com tesão de ver aquela pseudo-patricinha se prostituindo. Eu havia tentado comê-la umas duas vezes mas ele me havia recusado.
- Olha. Se você fosse dar na rua para conseguir dinheiro para me pagar. Dada a cotação do mercado que eu conheço muito bem. Uma puta como você. Digo, uma puta com as suas qualidades físicas teria de fazer uns trinta programas para me pagar. Mas olha só, se você fizer de tudo, eu deixou por dez programas.
- O que é fazer de tudo? Anal, eu não faço.
- Então esquece. Some da minha frente.
- Está bem, eu faço.
- Mas olha, é para fingir igual a uma puta. Você é atriz, não é? Então, finge que está gostando. Caso contrário, nada feito.
- Ok.
- Vamos para a cama da minha avó.
- Mas a sua avó está na sala.
- Ela está vendo a novela e não vai aparecer.
- Mas no seu quarto tem banheiro, cama de casal, toalha. Por que tem que ser no quarto da avó?
- Por que, é assim que eu quero.
Eu fiz esse retrato quando ganhei uma noite na suíte presidencial de um motel na Raposo Tavares. Eu não tinha ninguém para levar, então liguei para a Clarissa. Como já havia gasto as minhas dez vezes com ela, paguei esse programa a parte. Eu não sei por que razão, mas eu a fazia engolir a minha porra todas as vezes.